RUMO AO DESCONHECIDO - II

Fiquei uns 3 dias em Moscou, no alojamento havia gente de muitos lugares e lembro de na cafeteria já começar a usar minhas habilidades linguísticas. Graças aos estudos ainda em Porto Alegre, no Instituto Cultural Brasil – URSS, dirigido pelo saudoso Paulo Gomes da Silveira (para mim Seu Silveira), pelo menos podia juntar as letras e ler; e isto era de tremenda importância na locomoção por exemplo, já que no magnífico metro de Moscou o nome das estações estava somente escrito em russo. Eu também tinha algum conhecimento do vocabulário e expressões mais usadas, mas lembro que quando cheguei em Kiev, já no internato da escola, umas senhoras russas, muito grandes e gordas, vieram falar comigo com aquele jeitinho muito russo, de quem está brigando e discutindo; com um tom de voz tão alto que, com o susto, tive um bloqueio comunicativo que durou dias. O mais incrível é que quando voltei ao Brasil, dois anos depois, falava como elas e deixava todos espantados com aquele tom tão enérgico.

Mas então, depois desta curta estada em Moscou, cidade que visitaria muitas vezes, fui colocada em um trem com destino a Kiev, capital da Ucrânia.  Lá começaria meus estudos  na Escola Estatal de Ballet Clássico de Kiev. 


Foi uma longa jornada, a maior parte do tempo meio delirante porque com a mudança brusca de temperatura do verão brasileiro para o inverno russo, eu estava com febre e dor de garganta e lembro vagamente de uns rapazes colombianos cuidando de mim durante a viagem. 


Tive uma grata surpresa ao chegar em Kiev e à escola. Esta, um prédio de dois andares que ficava dentro de um parque estupendo e com o alojamento quase ao lado. Era uma escola destinada a formação em música e dança, estudantes dos cursos conviviam e neste mesmo parque havia uma piscina térmica que eu viria a frequentar muito, junto com outros colegas de dança.


Kiev sempre foi conhecida como Cidade Jardim (foto abaixo), pela quantidade de verde e parques, o clima era mais ameno, um inverno entre -18 e -23 graus e todas as estações bem definidas. Tinha muitas atrações culturais. Muitos teatros (Teatro de Kiev de Ópera e Ballet- foto acima) com ininterrupta programação de ballet, ópera, circo, teatro, onde nós estudantes praticamente tínhamos livre acesso. Na verdade as entradas para os teatros eram muito baratas e as pessoas tinham como hábito de seu dia-a-dia, sair do trabalho e ir assistir algum espetáculo. Ir ao teatro não era um evento social, era parte do cotidiano, apreciar as artes naquele país era um direito usufruído pela população e ser artista era realmente algo apreciado e respeitado. Toda vez que eu falava que era aspirante a bailarina, percebia a admiração e respeito que isso provocava nas pessoas que viam isto como um privilégio. 





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