RUMO AO DESCONHECIDO I




O ano era 1988 e lembro perfeitamente de quando olhei pela pequena janela e vi aquela vastidão branca com alguns perdidos pontos coloridos, casas minúsculas desde as alturas. A medida que o avião descia eu sentia o estômago apertar e só pensava apavorada que teria que desembarcar em alguns minutos.


Poucos dias antes, estava em casa almoçando, num dia quente de novembro, quando recebi um telefonema comunicando que deveria me apresentar na escola até dia 2 de dezembro. A falada escola ficava no outro lado do Atlântico e a notícia que me tirou totalmente o apetite, era na verdade meu mais ardente  sonho se realizando: tinha recebido uma bolsa de estudos para cursar ballet clássico no país de maior tradição nesta arte, então União Soviética.

Embora na viagem eu estivesse acompanhada de um músico, outro bolsista,  que se dirigia ao Conservatório Tchaikovsky em Leningrado, cidade agora conhecida como São Petersburgo outra vez, a chegada na maravilhosa cidade de  Moscou foi tumultuada. Não havia ninguém nos esperando e tivemos que descobrir com nossos parcos conhecimentos de russo, como sair do aeroporto e para onde ir. Conseguimos arrumar um táxi que nos levasse ao alojamento para estrangeiros recém chegados, uma verdadeira Torre de Babel ao sul de Moscou, conectada a uma estação de trem, perto da Universidade Patrice Lumumba, repleta de estudantes vindos de diferentes lugares do mundo. Meu colega de aventura, na confusão da chegada e me ajudando com minhas seis malas, acabou por deixar sua única mala esquecida na rua, em frente ao aeroporto e teve que voltar no mesmo táxi para tentar recuperá-la. Fiquei lá sozinha, no meio da neve, cercada de malas, na frente do enorme prédio e com uma temperatura nada amena de 30 graus negativos.

Com todo aquele frio, veio um grupo de estudantes de dentro do alojamento me socorrer e um pouco mais tarde meu colega voltava com sua mala, que havia sido recolhida da rua e esperava por resgate no aeroporto. Tivemos nossas primeiras lições de solidariedade naquele alojamento, um admirável mundo novo se abria diante dos olhos e eu ainda não sabia, mas aprenderia muito mais do que dança naquele país.

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