CEM ANOS DE EMOÇÃO


Em 25 de junho de 2012, celebramos o centenário de nascimento do Mestre João Luiz Rolla.

Como aluna totalmente dedicada aos seus ensinamentos, creio que o maior tesouro  que recebi frequentando sua escola e participando dos espetáculos de Rolla e Seu Ballet (1975-1982), foi a certeza de que a dança não é uma teoria, um sistema ou um conhecimento que você adquire. A dança é a dança. Só pode ser integralmente comprendida, através da experiência, ou seja dançando.

Lembro dos primeiros anos de escola, as alegres tardes frequentando as aulas no Auditório Araujo Vianna que atingiam seu ponto culminante quando aprendíamos dançando cantigas populares coreografadas: O Meu Chapéu de Três Pontas, Samba Lelê, Fui no Tororó, O Cravo e a Rosa, entre outras. Depois, seguindo  os estudos, a oportunidade de dançar coreografias com músicas de Schumann, Bachmann, Delibes, Grieg, Shostakovich, só para citar alguns compositores que Rolla apreciava.
Ah, e quanto Chopin ouvíamos... 

Assim como as coisas importantes da vida,  a paz, a felicidade, a realização e o amor, a dança está dentro de cada um de nós. Uma criança pode presentir isso, até melhor que um adulto, porque ela tem um mundo interno mais inocente, mais virgem, ela está mais próxima de suas raízes. Seu Rolla sabia disto intuitivamente e diante de seus pequenos pupilos era na atitude, na forma de trabalho dedicada e meticulosa que transmitia este conhecimento. Seu maior legado, sem dúvida,  são as gerações que formou e contaminou com seu amor pela dança.

O professor oferecia oportunidades a todos os alunos, de crescerem e descobrirem a si mesmos. Oportunidades iguais para serem desiguais, para serem únicos porque em sua sabedoria de artista reconhecia que na variedade de flores, de cores diferentes, de fragâncias distintas, o mundo se torna mais rico.

Sou infinitamente grata ao Mestre por me ensinar o ofício do bailarino e por fazer nascer em meu coração esta paixão pela dança que agora posso compartilhar na ESCOLA DA PORTO ALEGRE CIA DE DANÇA.

Graças ao Mestre aprendi que disciplina não pode ser confundida com condicionamento, que ter disciplina não se trata de ser rigoroso ou ser obediente. Disciplina é liberdade. É resultado de um trabalho de autoconsciência, algo construído no seu interior, você respeitando e observando à você mesmo. Através da prática e observação sistemática você vai descobrindo e incorporando métodos para fazer o que você quer fazer da melhor maneira possível, com eficiência, com resultado, com cuidado, detalhadamente, com amor.

Também descobri convivendo com o artista Rolla que a criatividade está em responder ao momento diretamente, imediatamente, sem idéias preconcebidas. Você olha para a situação, percebe o contexto, é sensível a ele — e age. Neste movimento a ação não parte da cabeça, de lembranças de situações passadas, mas brota do coração.
Seu Rolla era um homem do teatro, da ação, totalmente conectado ao seu tempo, conseguia ousar e inovar sempre.

Tive a sorte de ser aluna do Mestre Rolla e hoje poder usufruir de sua herança. Neste centenário em sua homenagem uma única frase pode sintetizar toda a emoção e reverência do momento: 
OBRIGADA SEU ROLLA!
Tânia Baumann

 * veja também entrevista especial com Lucia Helena Rolla sobre o centenário do Mestre

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